quinta-feira, 27 de janeiro de 2011 0 comentários By: Fredolento

O MUNDO SUPORTARÁ TANTAS PESSOAS?

SUPERPOPULAÇÃO

LOGO MAIS SEREMOS 7 BILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO.
 A população mundial pode chegar à marca dos 9 bilhões até 2045. O planeta vai conseguir sustentar tanta gente?(espaço, moradia, alimentos...)
 Neste ano ainda a previsão da ONU (Organização das Nações Unidas) é que a população do planeta chegue a marca dos 7 bilhões, está na hora de fazer um balanço. Nas próximas décadas, mesmo com o declínio nas taxas de natalidade, a população vai continuar a crescer - sobretudo nos países mais pobres. Se bilhões de pessoas empenhadas em deixar para trás a miséria seguirem os passos dos habitantes dos países ricos, haverá enorme impacto sobre os recursos naturais. MAs até onde vai crescer de fato a população? Como será o mundo em 2045? As respostas dependem das decisões que cada um de nós tomar.

 De acordo com as estimativas mais recentes dos historiadores, na época de 1677 ( ano em que viveu Leeuwenhoek, descobridor da enorme quantidade de "animálculos - espermatozóides- " no sêmen humano, entre outras curiosidades), havia cerca de meio bilhão de seres humanos no mundo. Após crescer bem devagar durante milênios, esse número estava começando a ganhar impulso. Um século e meio depois, quando outro cientista comunicou a descoberta do óvulos humanos, a população mundial tinha dobrado e ultrapassado a marca de 1 bilhão. Um século depois disso, por volta de 1930, ela havia dobrado mais uma vez, agora para 2 bilhões. Desde então a aceleração do crescimento demográfico foi assombrosa. Antes do século 20, nenhum ser humano tinha vivido o suficiente para testemunhar uma duplicação da população mundial, mas hoje há pessoas que a viram triplicar. Em algum momento no fim de 2011, segundo a Divisão de População das Nações Unidas, seremos 7 bilhões de pessoas.
 Com a população mundial a aumentar ao ritmo de cerca de 80 milhões de pessoas por ano, é difícil não ficar alarmado. Em toda a terra, os lençóis freáticos estão cedendo, os solos ficando cada vez mais erodidos, as geleiras derretendo e os estoques de pescado prestes a ser esgotados. Quase 1 bilhão de pessoas passam fome todo o dia. Daqui a algumas décadas, haverá mais 2 bilhões de bocas a ser alimentadas, a maioria em países pobres. E bilhões de outras pessoas lutarão para sair da miséria. Se seguirem pelo caminho percorrido pelas nações desenvolvidas - desmatando florestas, queimando carvão e petróleo, usando fertilizantes e pesticidas com abundância -, vai ser enorme o impacto sobre os recursos naturais do planeta. Como podemos conciliar tudo isso?
  
 Em 1989, a revista superinteressante já abordou o tema, e disse:

 Na vertente ecológica, o aumento acelerado da população mundial - que simplesmente dobrou de 2,5 bilhões para os atuais 5 bilhões em menos de quarenta anos - é apontado como principal responsável pelos desastres acumulados que ameaçam a vida na Terra, desde o efeito estufa até a extinção em escala sem precedentes de espécies animais e vegetais,do buraco na camada de ozônio ao esgotamento dos solos e de recursos minerais. Para o biólogo Paul Ehrlich, a vítima preferencial da superpopulação são os ecossistemas -o conjunto de formas de vida e de processos naturais em equilíbrio dinâmico que tornam o mundo habitável. Os serviços que tais ecossistemas oferecem à humanidade são literalmente vitais", ensina ele.
Um desses serviços, ameaçados não só pelo aumento físico das populações como também pelas condições em que se dá a expansão da presença humana na Terra, é o que determina a qualidade da mistura de gases na atmosfera. Como se sabe, a respiração de animais e plantas consiste numa ciranda de oxigênio e dióxido de carbono. Este é usado pelas algas e plantas verdes terrestres para fixar a luz solar no processo da fotossíntese, da qual um subproduto é o oxigênio.Também se sabe que a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, e o desmatamento por atacado desequilibram aquele jogo da vida, ao aumentar a quantidade de dióxido de carbono no ar. Pois bem. Recente pesquisa conduzida por cientistas americanos mostrou que existe uma íntima relação entre a concentração de gás carbônico na atmosfera e o crescimento populacional.
Trabalhando com medições de dióxido de carbono de um lado e de índices de expansão demográfica de outro, ao longo de um período de 26 anos; encerrado em 1983, os pesquisadoras verificaram estatisticamente o parentesco muito próximo entre as duas séries de dados. Ou seja, o ritmo do aumento da concentração do gás segue rigorosamente o ritmo do aumento da população mundial. Outro efeito potencialmente maligno da proliferação humana atinge aquilo que os cientistas chamam “produtividade da rede primária” - a energia total obtida do Sol por algas, plantas e bactérias (a fonte básica de alimento para os animais) menos o que elas próprias gastam para sobreviver.
Pois bem de novo:
 O livro que Ehrlich publicou, The population Bomb ("A bomba demográfica", não disponível em português), fez dele o mais famoso dos malthusianos modernos - "criadores de teorias do apocalipse" -. Nos anos 1970, ele previu que " centenas de milhões de pessoas morrerão de fome", e que era tarde demais para fazer algo. "O câncer do crescimento demográfico [...] precisa ser extirpado", escreveu, "e de maneira compulsória, caso fracassassem os métodos voluntários." O próprio futuro dos EUA estava em perigo. Apesar desse tom, ou talvez por causa dele, o livro virou um best-seller. Mas não foi dessa vez que a bomba explodiu. Na época já estava em curso a chamada revolução verde, uma combinação de sementes melhoradas, irrigação, pesticidas e fertilizantes que permitiu duplicar a produção mundial de cereais. Hoje ainda há muita gente desnutrida, mas é rara a fome em escala maçiça.
 Todavia, Ehrlich tinha razão ao dizer que os avanços na medicina acabariam por levar a um surto demográfico. A penicilina, a vacina contra a varíola e o DDT( que, embora controverso mais tarde, evitou que milhões de pessoas morressem de malária) surgiram ao mesmo tempo. Milhões de pessoas nos países em desenvolvimento que não teriam passado da infância sobreviveram e puderam ter filhos. Este é o motivo pelo qual houve um surto demográfico em todo o planeta: porque se evitou a morte de uma enorme quantidade de pessoas. E também porque, por um tempo, as mulheres continuaram a ter muitos filhos. Atualmente, nos países desenvolvidos, a média de 2,1 filhos por mulher manteria a população constante; no mundo em desenvolvimento, esse nível de fertilidade de "reposição" é um pouco mais alto.
 No ínicio dos anos 1970, as taxas de fecundidade em todo o mundo haviam começado a despencar - com maior rapidez que o previsto. Desde então, a taxa de crescimento da população já caiu mais de 40%.
 Mas em seguida com o declinio da "taxa de reposição", o que antes parecia uma situação demografica perene agora virou uma festa preste a acabar. Um problema se apresenta hoje a todo o mundo desenvolvido: o de achar meios para sustentar uma população cada vez mais idosa. "Em 2050 vai haver trabalhadores em quantidade suficientes para assegurar o pagamento das pensões?" indaga Frans Willekens, do Instituto Demográfico Interdisciplinar dos Países Baixos. "A resposta é simples: não."
 A ONU estima que o planeta alcançará a taxa de fecundidade mínima de reposição até 2030."A população como um todo está no rumo de uma não explosão - e essa é uma notícia boa", diz Hania Zlotnik, diretora da Divisão de População das Nações Unidas.
  claro que as medidas saneadoras devem ser executadas de acordo com um plano bem elaborado, que também terá de ser corrigido passo a passo, ao longo do tempo. Por isso, Ehrlich criou uma equação para descrever o efeito ambiental da explosão demográfica. Essa equação tem a forma I = PCT, onde I é o impacto ambiental, P é a população, C consumo médio por pessoa e T nível tecnológico. O exemplo da China ajuda a entender como ela funciona. Lá, a população foi fortemente controlada. Estatísticas da ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que ela cresceu 2,22% entre 1970 e 1975. Controlada, essa taxa caiu para 1,24% entre 1980 e 1985 e 1,19% entre 1985 e 1990. O impacto no meio ambiente, portanto, deveria diminuir, mas não diminui devido ao desenvolvimento — nesse caso, representado pelo consumo de água, o item C da equação.
O gasto total de água é imenso, já que a China é o país mais populoso do mundo. Mas o consumo por pessoa ainda é pequeno, cerca de um quinto do consumo nos Estados Unidos. Mesmo assim, a demanda vem crescendo rapidamente devido a importantes mudanças sociais. Até o ano 2 000, a indústria deve absorver o dobro da água consumida hoje, e os centros urbanos vão quadruplicar a sua cota. Como resultado, espera-se escassez de água em 450 das 644 maiores cidades chinesas, por volta do fim do século. Tal exemplo é ainda mais edificante porque revela a clara necessidade de maior solidariedade entre os países: para que alguns tenham vida melhor, por meio do avanço tecnológico, outros têm que abrir mão de recursos excedentes e muitas vezes exagerados. Afinal, talvez esteja aí a raiz do problema: se chegar a um acordo sobre a melhor maneira de distribuir as riquezas do mundo, a humanidade terá dado largo passo rumo a um futuro digno de se viver.

A China já está
abaixo da taxa
de reposição,
devido em parte à política de
filho único.


  Na Índia são usados tanto metodos de controle de natalidade, a esterilização tanto do homem como da mulher, no homem principalmente a vasectomia sem o bisturi, com duração média de seteminutos de cirurgia. Como incentivo o governo Índiano paga cerca de 1 100 rúpias ( uns 25 dólares), o equivalente ao salário semanal de um trabalhador.
 Em Kerala, no Sudoeste, os investimento em saúde e educação fizeram com que a taxa de fecundidade caísse para 1,7. O crucial, segundo os demógrafos locais, é a taxa de alfabetização das mulheres, por volta de 90% - sem dúvida, a mais alta da Índia. As jovens que frequentam a escola começam a ter filhos mais tarde que as outras. Também são mais receptivas a métodos contraceptivos e mais informadas de suas opções.
 Oito bilhões correspondem à estimativa mais baixa da ONU para 2050. Nesse cenário otimista, Bangladesh teria uma taxa de fecundidade de 1,35 em 2050, mas ainda 25 milhões de habitantes a mais que hoje. A taxa de fecundidade em Ruanda também seria inferior ao nível de reposição, mas sua população atingiria o dobro do que era antes do genocídio. Se esse é o cenário mais otimista, alguém poderia dizer, então o futuro é de fato deprimente.
 Porém, também podemos tirar disso outra conclusão: talvez essa preocupação com os números populacionais não seja a melhor maneira de confrontar o futuro. As pessoas amontoadas em favelas necessitam de ajuda, mas o problema a ser resolvido são a pobreza e a falta de infraestrutura, não a superpopulação. Proporcionar a todas as mulheres acesso aos serviços de planejamento familiar é uma boa idéia. No entanto, o mais agressivo programa de controle populacional que se possa imaginar não vai salvar Bangladesh da elevação no nível do mar nem Ruanda de outro genocídio nem todos nós dos enormes problemas ambientais a nossa frente.

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC - JANEIRO 2011
           SUPERINTERESSANTE - EDIÇÃO 021 JUNHO DE 1989 OU http://super.abril.com.br/cotidiano/explosao-demografica-urbanizacao-inflacao-humana-439036.shtml
           SUPERINTERESSANTE - EDIÇÃO 068 MAIO DE 1993 OU http://super.abril.com.br/ecologia/epidemias-seca-fome-bomba-relogio-superpopulacao-440742.shtml